11 horas de uma manhã agradável de dezembro. Preparava eu uma Apelação Cível, de certa importância, quando fui interrompido pelo chamamento de meu netinho de 3 anos: - "Vô, vem aqui." Meu escritório fica no segundo andar de minha casa e meu neto mora com os pais no primeiro, graças a Deus. Levantei-me da cadeira e fui até a janela interna que permite que se veja a escada de acesso à "minha casa", como rotulou, esse mesmo neto, o andar de cima. Muito bem. Olhando para baixo divisei o pequeno ao pé da escada, com as mãos nas cadeiras, empertigado e com o olhar sério. As pernas arqueadas lembraram-me os mocinhos e bandidos do faroeste de minha adolescência, prestes a duelarem. Perguntei-lhe o que queria, ao que ele me respondeu: "desce aqui, vô". Ante tamanha determinação de vontade não me restou alternativa. Dirigi-me à escada e comecei minha descida gloriosa. Atender a vontade dos netos a qualquer hora e tempo é sempre uma tarefa prazerosa e rejuvenescedora. Quando fui atingindo o último degrau encarei-o com aquele olhar idiota de bufão metido a sério. Então, vi meu neto me encarar arrogantemente, arquear as sobrancelhas, soltar os bracinhos ao longo do corpo, em posição de confronto e lascar em mim a frase hollywoodiana, do velho e cansado faroeste: "Vô, plepale-se pala moê". E diante de minha expressão facial, entre surpresa e divertida, girou nos calcanhares e saiu correndo, às gargalhadas, em direção ao quarto de brinquedos, onde certamente outras diversões o esperava. Gente, tem coisa melhor na vida?