Estou de frente para um enorme e estranho espelho multidimensional. Converso com meus "EUS". Ou melhor, sinto-me como num tribunal. Vejo-me falando. De tudo me fiz um pouco. Moldando min'alma ao sabor dos prazeres e das dores, galguei o mais alto cume do orgulho nefasto. Assentei-me no trono fugaz das ilusões da vida. Ri da morte e cuspi na sorte. Soterrado na lama das paixões vis, testemunhei meu reino de fantasia sucumbir ante a força imbatível da realidade do mundo. Quem sou eu? Donde venho? Para onde vou? Meus clamores ecoam crudelíssimos no amago vazio do meu ser. Meu espírito vagueia insano pelas regiões umbralinas qual Dante o fez, porém sem Vergilio ou outro qualquer a acompanhar-me. Vozes de algozes emergem do espelho e castigam meus ouvidos: "Você é o que é, vem do nada e retorna para sua origem". Então, u'a mão gigantesca, dedo em riste, acusador, vem em minha direção enquanto uma voz terrífica acusa-me: " Você é a mão que afaga e mata. A voz que consola e amaldiçoa. O olhar que ampara e acusa. O abraço que acolhe e esmaga. A verdadeira luz das trevas que..." Um grito lancinante escapou-se-me dos lábios em forma de um "NÃO" espavorido. Despertei em prantos e suando por todos os poros, sem prejuizo, entretanto, de guardar a impressão de ter visto esgueirar-se pela porta do quarto uma sombra escura esvoaçante. Vade retro...